quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Lista de gaitas que iniciantes NÃO devem comprar


Começar a tocar gaita com um instrumento de baixa qualidade pode ser algo extremamente frustrante. Com a explosão dos produtos OEM (sigla para Original Equipment Manufacturer, ou Fabricante Original do Equipamento, em tradução livre) dezenas de gaitas de baixo custo que são praticamente idênticas e o que muda é apenas o logo na tampa, são encontradas em lojas físicas e online.

Geralmente elas seguem os moldes das gaitas da linha "Enthusiast" da Hohner, chamada carinhosamente pela fabricante alemã de "gaita de baixo orçamento", mas que deveria ser nomeada como "produto de baixa qualidade" mesmo. Por mais que se trate de produtos da lendária fábrica de gaitas, elas são produzidas na China por valores que mal ultrapassam três dólares e são vendidas no eBay por cerca de seis, sete dólares.

No Brasil, lojistas maliciosos ou desinformados chegam a vendê-las por cerca de 100 reais. E o mais triste é que inúmeros aspirantes à gaitistas adquirem tais instrumentos e desistem por não conseguirem evoluir no aprendizado. Mesmo tendo morado em cidades do interior, já deparei com diversas pessoas me procurando para aprender a tocar gaita, portando tais instrumentos de qualidade inferior. Quando aviso que elas precisarão comprar uma gaita melhor e mais cara, simplesmente desistem da ideia.

Inúmeras marcas entraram no ramo das harmônicas com modelos de baixo custo. Até mesmo a tradicional Fender submeteu-se ao papelão de fabricar péssimas gaitas e o peso do nome da marca americana impulsiona a venda (e alta no preço) de tais instrumentos deploráveis. Os preços são sedutores, com pouco mais de 30 reais é possível adquirir uma gaita OEM, o que infelizmente faz com que o valor de gaitas da Hering, Hohner e Suzuki se torner exorbitantes. Afinal, um iniciante não vai querer desembolsar de 150 a 250 em gaitas, se outras de aparência semelhantes custam quase oito vezes menos.

Para colaborar com que novos gaitistas não cometam o equívoco de adquirir tais instrumentos de baixa qualidade e a fim de orientar lojistas sobre a procedência das gaitas, listei alguns dos instrumentos que deveriam ser evitados. A lista é imensa e citei apenas as gaitas que já experimentei ou tive notícias de serem péssimas. Qualquer sugestão de outras gaitas de baixa qualidade podem ser sugeridas no campo de comentários para que a lista seja atualizada!

A lista negra das gaitas diatônicas:
  • Honher Bluesband
  • Hohner Piedmont Blues
  • Hohner Roadhouse Blues
  • Hohner Hoodoo Blues
  • Hohner Blues Bender
  • Hohner Hot Metal
  • Hohner Silver Star
  • Orleans Stone Series
  • Hering Handy Harp (antiga)
  • Fender Blues Deluxe
  • Dolphin Pocket Blues
  • Spring
  • SX Blues
  • Stagg Howlin' Harp Blues
  • Swan Blues Harmonica
  • Swan Blues Power
  • Suzuki Easy Rider
  • Bee
  • PHX
  • Hot Blues
  • Harmonica DMTS
  • Irin (qualquer modelo)
  • Flanger FH-01
  • Eastar Major Blues Harmonica
  • QI MEI Blues Harmonica

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O Dia da Gaita no Brasil

A data de 23 de agosto foi escolhido pela comunidade de gaitistas brasileiros para se comemorar o dia da gaita. A discussão sobre o tema foi germinada em 2017 numa página do Facebook e na ocasião, algumas datas foram escolhidas como as mais representativas para o instrumento no país. Foi cogitado escolher o dia da fundação da fábrica da Hering no país, dentre outras datas, porém o aniversário da morte de Edu da Gaita, provou-se um marco mais significativo para o instrumento.

A fim de oficializar a data, o gaitista paulista Ailton Rios tentou contato com diversos parlamentares de São Paulo e após mais de um ano de labuta, conseguiu encontrar um vereador interessado na causa. Para aprovação da lei municipal, o político pediu que Ailton formulasse um texto acerca da trajetória de Edu da Gaita, que inclusive já está tramitando na câmara dos vereadores de São Paulo e irei compartilhar na íntegra a seguir:
“A música foi a razão da minha vida” ou ainda “Um músico que teve o descuido de tocar um instrumento sem Cátedra”
Edu da Gaita, nasceu no dia 13 de outubro de 1916, em Jaguarão/RS, e faleceu em 23 de agosto de 1982 no Rio de Janeiro/, foi batizado Eduardo Nadruz, filho de imigrantes árabes.
Será que a palavra prodígio cabe aqui? Um dos pioneiros da Gaita no Brasil. Começou a se apresentar publicamente em 1925, isso aos nove anos de idade. 
A historia conta que em 1926, chega em Pelotas/RS um certo professor Charles representante da Hohnner (Fábrica de Gaitas Alemã, que existe até hoje), e promoveu um concurso de Gaitas que teve a participação de 300 alunos dos colégios Gonzaga e Pelotence, do qual foram selecionados 15 finalistas.
A final  aconteceu no Teatro Guarani, Edu foi o último a se apresentar vencendo o franco favorito, um garoto chamado Simplício Garcia. O Edu apresentou uma série de trechos de ópera e terminou com O Guarani a surpresa final que levou o público ao delírio e abocanhou o prêmio de 200 mil réis sendo carregado pelo público nas ruas da cidade.
Na década de 1930 (1933) a família passa por problemas financeiros e o Edu vem para São Paulo para conseguir em emprego e ajudar nas despesas da família. Ciente da hostilidade dos Paulistas com os Gaúchos por conta da Revolução de 1932, primeiro vai para Santos e depois para São Paulo.
O dinheiro que trouxe acabou, tendo inclusive que sair da pensão que alugou, andando pelo Centro chegou na Avenida São João, na Ladeira do Martinelli viu um homem tocando Gaita e recolhendo uns trocados, dirigiu-se para a Casa Manon que ficava ali na Rua 24 de Maio (aliás foi na Casa Manon que adquiri minha primeira Gaita, uma Gaita Cromática 64 vozes).
Conta a história que o balconista ao ser questionado pelo Edu se tinha Gaita este chamou o Gerente que disse: “Esse instrumento não vende, ninguém toca, temos um estoque antigo aí”, o Edu fez um acordo com o Gerente “que comissão eu ganho se ajudar a vender suas gaitas?”. Foi combinado 30% o Edu escolheu uma Gaita e foi para a porta da loja, ficou tocando e em duas horas já tinha vendido todas as gaitas, e o menino com 17 anos inicia sua vida como músico ambulante (hoje chamamos de Músico de Rua).
Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro, nessa época o ambiente cultural no Rio fervilhava e o Edu conheceu grandes nomes da época, foi levado à Rádio Mayrink Veiga, foi aí que Eduardo Nadruz, inicialmente virou Edu e sua Gaita e depois Edu da Gaita, sugestão de César Ladeira que lhe disse que o nome Eduardo era anti-radiofônico. A carreira musical ainda não tinha engrenado, entre 1935 e 1939, trabalhou também, como cantor de tangos, vendedor de livros, datilógrafo, pianista de bordel.
Em 1937 foi convidado a participar de um espetáculo no Cassino Copacabana, foi preciso tirar uma Carteira de Trabalho, foi ao Ministério do Trabalho: onde ocorreu um diálogo que deu lugar à concessão de um dos documentos mais surrealistas da história da música profissional do Brasil: 
“Impossível! O homem não tem profissão definida, diz que é tocador de gaita… isso não existe em nenhuma categoria musical ou artística! ” Chega um outro e comenta – Seu Furtado, se o homem faz música é músico… seja em que instrumento for. Quem toca piano é pianista, violino é violinista, gaita só pode ser gaitista… Furtado mais uma vez argumentou que a classificação tinha que ser como músico e não como instrumentista e, após uma calorosa discussão, entregou a Eduardo Nadruz a carteira profissional número 70.748, série 27, determinando sua condição de “músico excêntrico” (em 1948, já famoso e reconhecido, foi emitida a segunda via, ratificando a primeira…).
Entretanto a grande guinada da carreira musical do Edu, acontece em 1945 quando toma conhecimento da música “Moto Perpétuo” de Nicollò Paganini, foram necessários onze anos de estudos para executar a obra de 2400 notas em no máximo quatro minutos, foi o primeiro instrumentista de sopro a conseguir esse feito em todo o mundo, Edu gravou em Junho de 1956 no tempo recorde de 3,21 segundos.
Outro grande feito: em 22 de novembro de 1958, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira e em primeira audição mundial, Edu executou o concerto para harmônica de boca e orquestra de Radamés Gnattali, sob a regência do autor, ganhando o prêmio de música erudita conferido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, Edu correu países com sua performance na Gaita.
De 1939 a 1980 – Deixou mais de 20 Discos gravados entre discos 78 Rotações, LPs e CDs, um legado considerável para a Música Popular Brasileira e para a Gaita de Boca (Harmônica como o mundo todo conhece).
“A Música foi a razão da minha vida”, são literalmente as últimas palavras ditas por Edu da Gaita, no dia 22 de Agosto de 1982, segundo seu filho: Eduardo Nadruz Filho. “Um Músico Que Teve o Descuido de Tocar Um Instrumento Sem Cátedra”, isto é não é estudado ou ensinado em Escolas de Música.
Da rua para as grandes salas de concerto, de obras musicais folclóricas a peças escrita especificamente para Gaita, da informalidade para grandes registros fonográficos que estão disponíveis para todos nós ouvirmos, de instrumento sem cátedra para os Cursos Superiores de Música. A Gaita também é utilizada para em Consultórios Médicos mais especificamente em Fisioterapia Respiratória para Reabilitação Pulmonar.
Edu da Gaita um dos pioneiros que modificou o “olhar” sobre essa pequena notável: A Gaita de Boca. Devido ao seu talento e virtuosismo no instrumento chegou a ser considerado um dos maiores no mundo no instrumento foi apelidado de “O Mago da Gaita” e por ser magro não escapava das brincadeiras dos amigos que o chamavam de “O Magro da Gaita”. 
Edu tem algumas homenagens pelo Brasil, poucas se pensarmos na importância deste artista para a Música no mundo não só para a Harmônica (Gaita) é nome de alguns logradouros: (Rua Eduardo Nadruz) Rio de Janeiro-RJ, Campinas-SP, Porto Alegre-RS e (Rua Edu da Gaita) Fortaleza-CE, Cidreira-RS.
Esse texto não é a biografia do Edu, são apenas alguns fatos importantes sobre sua historia e carreira.
A torcida é que a data se estabeleça como o Dia da Gaita no Brasil, e nada melhor do que homenagear este brilhante gaitista, que possui singela, única e brilhante trajetória e representatividade internacional. Ao término da postagem, irei compartilhar os links consultados por Ailton para elaborar esta pequena biografia. Enquanto a lei não é sancionada em SP, os gaitistas de todo o país ainda podem celebrar a data ainda não oficial deste pequeno gigantesco instrumento!

Bibliografia:


Áudios:

Pesquisa realizada em 13 de agosto de 2019 às 17 horas por Ailton Rios (Contato: ailtonrios@bol.com.br - (11) 96364-4432 (11) 99315-1983)