Em 2005 surgia no Brasil aquela que estava fadada a se
tornar uma revolução não só no país, mas em todo o mundo no aspecto
revolucionário, ou publicitário (as más línguas podem ainda compará-la ao
populismo de Getúlio Vargas ou algo que o valha) envolvendo fabricação de
gaitas e também um notável contato com o público gaitista. A Bends Harmonicas surgia
no mercado com alguns tímidos protótipos que em pouco tempo se consolidaram em
aproximadamente dez populares modelos de gaitas que rapidamente figuravam nos
bolsos e nas bocas dos gaitistas. Anima, Juke e Prima são alguns exemplos
delas. Desde modelos enxutos para iniciantes a impecáveis gaitas profissionais.
Até gaita cristã acabou sendo fabricada. Fe? Talvez. Apelação? Pode ser. Tentativa de laçar novos
consumidores inexistentes? O mais provável... Em pouco tempo excelentes
gaitistas também já endorsavam e vestiam com convicção a camiseta da Bends. Publicidade
também existia de bom grado. Adesivos, cartazes, workshops e oficinas não
faltavam nunca. E não era só isso, o mailing da Bends também era impecável. Ele
ocorria mensalmente e às vezes em até menos tempo do que isso. Havia também
alguns concursos culturais que a meu ver não julgava qualidade e sim bajulação,
mas de todo jeito estava ali. Até aulas online gratuitas eram ministradas para
os clientes e a todo público interessado. Não sei para vocês, mas para o mundo
das harmônicas isso é até exagero...
A resposta das concorrentes ou da concorrente foi tentar
de maneira urgente atualizar o site estagnado, criar alguns novos modelos e
modificar alguns grafismos e embalagens de gaitas já existentes no mercado. O
“monopólio” centenário de algumas fábricas não contava que um boom como esse
surgisse do dia pra noite. E nem que a Bends pudesse estabelecer em menos de
cinco anos o que eles levaram décadas ou centenas de anos para conseguir. Afinal,
não a muito para se inventar se tratando de gaitas. Mas foi aí que a Bends
acertou e desesperou o mercado das concorrentes. Com tudo, cito como aspecto
negativo o encarecimento desnecessário do preço de todas as gaitas. Importadas
ou não. Mas depois de todo esse alarde, no ano passado a caçula das fábricas de
gaitas do mundo fechou suas portas e por sinal, sem nenhum aviso prévio. Boatos
ainda dizem que nem os próprios endorsees da Bends foram notificados do
acontecimento com antecedência. Na manhã do dia 25 de março um e-mail foi
enviado ao pessoal que assinava o conteúdo do badalado site com o triste
anúncio que a Bends encerraria suas atividades para sempre. Foi um susto grande
para todos, não há como negar. Alguns apontam a ingratidão do mercado
harmonicista como o principal motivo disso e muita gente até pensou que isso
faria com que as portas para que as gaitas importadas chegassem ao Brasil se
estreitassem ainda mais, mas isso é algo que não mudou muito com o fechamento
da fábrica e a dificuldade de acesso a gaitas importadas ainda continuam... Na
época do ocorrido fiz um artigo sobre isso aqui no blog e agora quase um ano
depois eu venho com a seguinte questão? A Bends fez, está fazendo ou fará
falta?
Pode parecer sensacionalismo ou terrorismo da minha parte
dizer isso tudo após a enxurrada de elogios descritos ao decorrer do texto, mas
é uma pergunta necessária uma vez em que toda essa luta se fez parecer
desnecessária. Muito se diz também em fóruns pela internet e em grupos pelo
Facebok. Surgiram muitos boatos e muito mistério sobre o motivo do fechamento
da fábrica, sobre o futuro dos endorsees e funcionários, sobre o destino do
estoque e do maquinário e etc. Uma polemica desnecessária ou não para o público
órfão e carente dos gaitistas. Sem exageros. Eu mesmo adorava a política de
aproximação com os clientes que a Bends possuia. Até simpatizava com as gaitas
e tudo mais, apesar de ter tido apenas uma Bends Juke e mesmo com o e-mail de
aviso de encerramento ainda vejo uma necessidade de um feedback aos já antigos
clientes da Bends. Eu mesmo já cogitei que o fechamento da fábrica seria um
puta marketing para que a fábrica se revigorasse em segredo e voltasse a todo
vapor. Mas agora que a poeira abaixou tudo indica que o velho bordão do John
Lennon é novamente muito oportuno. ”O sonho acabou”.